04/04/2012

Morfina


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Rebelde sem causa, sem calça, sem rumo, 
sentinela a procura de um portão aberto para tomar conta,
se apronta, se apruma, compaixão, demasiadas são, coração sem paixão, 
um vício, e como todo vicio também se tornou dependente, 
depende do doente, independente se a droga faz bem ou não.
Heroína, o amor é aquilo que entra no corpo e na alma e fica ali impregnado,
tentamos retira-lo e sempre caímos novamente na mesma questão,
será que dói mais manter ali ou arrancar do peito, do sangue.
Particionei meu HD, metade para o que não posso apagar,
metade para o que devo formatar quando ocorrer um erro.
Quem dera fosse assim tão simples,
como eu queria dividir o coração e quando não estiver feliz, apenas apagar...
Tenho no peito algo que já não sente nada, não corre mais sangue aqui, apenas a morfina,
essa sensação de não sentir dor é maravilhosa.
Não sinto bater, não sinto doer, não sinto, sinto, sinto muito.
Vivo apenas para não morrer, mas quem sabe a morte, ambição dos aflitos, me guie de volta à vida.
Vísceras gangrenadas, pupilas dilatadas, lágrimas secas no rosto frio.
Quando o olhar já não fizer mais falta, o saber deixará de ser ou não ser.
Enfim, ao fim, por fim, o resto será apenas um monte de adubo,
e no campo semeado um novo coração brotará,
e nele não haverá mais lugar para a poética juventude.
Restará apenas a sapiência de uma mente sadia e velha sem ter mais tempo para morrer.
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